quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Cronistas em alta

Um dos exercícios realizados em conjunto pela turma que participou do primeiro encontro da Oficina, na segunda-feira dia 7 de outubro, foi listar alguns de nossos cronistas preferidos. Eis os nomes de alguns daqueles que nos encantam com seu talento:
- Rubem Braga
- Arnaldo Jabor
- Gilmar Marcílio
- Thelma Guedes
- Tiago Marcon
- Luis Fernando Verissimo
- José Simão (Zé Simão ou Macaco Simão)
- Martha Medeiros
- Paulo Santana
- Fabrício Carpinejar
- Clarice Lispector
- Gilberto Blume
- Mario Quintana
- Franklin Cunha
- Juremir Machado da Silva
- Xico Sá
- Nivaldo Pereira
- Alessandra Rech
- Moacyr Scliar

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

FLOR DE MAIO




(Rubem Braga)

Entre tantas notícias do jornal - o crime do Sacopã, o disco voador em Bagé, a nova droga antituberculosa, o andaime que caiu, o homem que matou outro com machado e com foice, o possível aumento do pão, a angústia dos Barnabés - há uma pequenina nota de três linhas, que nem todos os jornais publicaram.
Não vem do gabinete do prefeito para explicar a falta d’água, nem do Ministério da Guerra para insinuar que o país está em paz. Não conta incidentes de fronteira nem desastre de avião. É assinada pelo senhor diretor do Jardim Botânico, e nos informa gravemente que a partir do dia 27 vale a pena visitar o Jardim, porque a planta chamada "flor-de-maio" está, efetivamente, em flor.
Meu primeiro movimento, ao ler esse delicado convite, foi deixar a mesa da redação e me dirigir ao Jardim Botânico, contemplar a flor e cumprimentar a administração do horto pelo feliz evento. Mas havia ainda muita coisa para ler e escrever, telefonemas a dar, providências a tomar. Agora, já desce a noite, e as plantas em flor devem ser vistas pela manhã ou à tarde, quando há sol - ou mesmo quando a chuva as despenca e elas soluçam no vento, e choram gotas e flores no chão.
Suspiro e digo comigo mesmo - que amanhã acordarei cedo e irei. Digo, mas não acredito, ou pelo menos desconfio que esse impulso que tive ao ler a notícia ficará no que foi - um impulso de fazer uma coisa boa e simples, que se perde no meio da pressa e da inquietação dos minutos que voam. Qualquer uma destas tardes é possível que me dê vontade real, imperiosa, de ir ao Jardim Botânico, mas então será tarde, não haverá mais "flor-de-maio", e então pensarei que é preciso esperar a vinda de outro outono, e no outro outono posso estar em outra cidade em que não haja outono em maio, e sem outono em maio não sei se em alguma cidade haverá essa "flor-de-maio".
No fundo, a minha secreta esperança é de que estas linhas sejam lidas por alguém - uma pessoa melhor do que eu, alguma criatura correta e simples que tire desta crônica a sua única substância, a informação precisa e preciosa: do dia 27 em diante as "flores-de-maio" do Jardim Botânico estão gloriosamente em flor. E que utilize essa informação saindo de casa e indo diretamente ao Jardim Botânico ver a "flor-de-maio" - talvez com a mulher e as crianças, talvez com a namorada, talvez só.

Ir só, no fim da tarde, ver a "flor-de-maio"; aproveitar a única notícia boa de um dia inteiro de jornal, fazer a coisa mais bela e emocionante de um dia inteiro da cidade imensa. Se entre vós houver essa criatura, e ela souber por mim a notícia, e for, então eu vos direi que nem tudo está perdido, e que vale a pena viver entre tantos sacopãs de paixões desgraçadas e tantas COFAPs de preços irritantes; que a humanidade possivelmente ainda poderá ser salva, e que às vezes ainda vale a pena escrever uma crônica.

A Ressignificação do Cotidiano Sob o Olhar do Cronista

A crônica é o gênero literário que ocupa, por excelência, um lugar privilegiado nos meios impressos de comunicação, atraindo a atenção das pessoas para as páginas de jornais e revistas e formando leitores cativos. A oficina “A ressignificação do cotidiano sob o olhar do cronista” tem como foco, ao longo de quatro encontros, analisar as características específicas que transformam esse gênero literário em um dos mais apreciados pelos leitores brasileiros, enfocando suas origens, os subgêneros que a compõem, a obra dos grandes mestres do gênero, a função da crônica enquanto instrumento de percepção da realidade contemporânea. Tudo isso por meio de debates entre os oficineiros e o desenvolvimento de exercícios práticos que ajudarão a promover uma experiência pessoal em relação à compreensão das nuances do gênero.